30/05/19 | Kênia Pereira e Sonia Pestana - Coremetro
Em grande estilo, reclusos da Penitenciária II “Desembargador Adriano Marrey” assistem ao desfile das peças produzidas no projeto Ponto Firme
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Sentenciados, servidores, modelos e convidados não escondem o orgulho do 2º desfile da coleção produzida pelo projeto Ponto
O brilho nos olhos pelo trabalho bem feito era nítido nos rostos de sentenciados, servidores, modelos e convidados presentes no 2º desfile da coleção produzida pelo projeto Ponto Firme, de crochê. No dia 22 de maio, a Penitenciária II “Desembargador Adriano Marrey”, de Guarulhos, mais uma vez abriu seu espaço para a demonstração da produção da equipe de reclusos e egressos idealizada, em 2015, pelo estilista Gustavo Silvestre.
Com o objetivo de mostrar o trabalho de personalidade que o Ponto Firme levou para a passarela da 47ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), em abril, a ação teve como público-alvo os protagonistas do projeto pioneiro no sistema prisional brasileiro. Participaram do desfile modelos selecionados pela Prefeitura de Guarulhos e Associação Guarulhos de Pessoas, Promotores e Produtores de Cultura e Eventos (Agruppe), que deram total suporte à iniciativa.
Para Silvestre, o Ponto Firme é uma fonte inesgotável de novas experiências, tanto para os reclusos, que participam do projeto, como também para ele. “Os alunos estão sempre aprendendo novos pontos e modelos diferentes. Já com relação às surpresas, essas não têm fim”, revela.
Segundo ele, é surpreendente ver a adesão dos sentenciados ao projeto. “Eles entram na unidade prisional, participam das aulas e saem do sistema penitenciário, mas sempre têm o crochê como pano de fundo”, comenta o estilista.
Toda a produção, do som ao cenário, ficou a cargo de servidores da penitenciária. O grupo de coral e acústico Fênix fez apresentações sob a coordenação do Agente de Segurança Penitenciária (ASP) Mário Jorge Antunes.
Tema da coleção
A coleção apresentada estava composta por 25 looks que seguiram o tema “Oportunidades”. Assim como na SPFW, contou com o apoio da Círculo, Levi Strauss & CO. e Melissa Calçados. No desfile estavam peças elaboradas coletivamente entre os alunos reclusos e os egressos do sistema prisional que hoje trabalham no ateliê do estilista.
O crochê é a inspiração principal nos trabalhos produzidos pelos integrantes do Ponto Firme, contudo as criações ganharam também detalhes em bordados que fazem parte das produções de camisas, chapéus e calças. Quanto aos acabamentos, as abundantes franjas e as costuras das peças ficaram por conta dos egressos.
O crochê em minha vida
À primeira vista, há um nítido contraste entre a delicadeza criativa do crochê com o ambiente prisional. Essas diferenças, contudo, perdem o sentido quando os atores principais do Ponto Firme relatam suas impressões sobre o significado do projeto em suas vidas.
Para F.B. o principal sentimento com relação ao crochê é que o crime realmente não compensa. Ele relatou que quando Silvestre falou pela primeira vez de um desfile com as produções dos presos, a princípio achou que era brincadeira. Mas, por fim, ficou surpreso quando viu que se tratava de pura realidade e que ele também faria parte desse sonho.
Ao longo do projeto, o recluso descobriu um talento que até então desconhecia. A surpresa veio com o trabalho bem-sucedido da junção dos pontos baixos da produção de mais de 300 amigurumis (bonecos feitos de crochê), alguns feitos com auxílio de lupa.
Já para F.S.S. e I.S., a inclusão do crochê na rotina dentro da unidade prisional foi de grande ajuda na luta com as drogas. F.P. revela que fez progresso na técnica da agulha e linha. Ele diz que começou confeccionando somente bonés, mas que hoje é capaz de fazer de tudo, de tapetes a vestidos.