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17/06/24 | Comunicação - Croeste  |  Compartilhe Facebook      Twitter      Whatsapp      Linkedin      Enviar por e-mail

Reeducando do CDP de Riolândia conclui curso de psicologia durante cumprimento de pena

Privado de liberdade apresentou TCC este ano após ter sido preso em 2022

Emanuel Casale de Andrade acreditou que era o fim de seu sonho em concluir o curso de nível superior em psicologia quando foi preso em 2022. Entretanto, com o apoio da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), por intermédio da gestão do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Riolândia, onde cumpre a sua pena, e da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Oeste (Croeste), o jovem, de 23 anos de idade, conseguiu conquistar o diploma na universidade onde era aluno.

Tanto a unidade, quanto seus familiares, não mediram esforços para proporcionar a conclusão do seu curso, que havia sido interrompido no nono semestre, próximo de conseguir terminar a sua formação.

A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) aprovou a continuidade dos estudos e medidas foram tomadas pela gestão do CDP para que o reeducando conseguisse apresentar o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Relatos

Emanuel aspirava desde a infância cursar psicologia. Diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH, começou os acompanhamentos psicológicos e, durante a adolescência, teve contato com a área de tecnologia da informação, através de sua família, que possuía uma escola de informática.

Chegou até a frequentar um curso técnico em química. Contudo, foi aos 17 anos, após o envolvimento com drogas, que veio a decisão: passou a ser atendido no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas - CAPS-AD, onde o interesse pela psicologia foi aguçado e enfim decidiu seguir essa carreira, movido também pelo vasto campo de atuação e valor social.

Microempreendedor Individual, técnico em informática, trabalhava como prestador de assistência técnica em equipamentos de informática à época da prisão. Após ter concluído o Ensino Médio e prestado o ENEM no ano de 2017, conseguiu a vaga no tão esperado curso de Psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul -UFMS, em Paranaíba.

Ao término do oitavo semestre, estudando em período integral, acabou preso em 2022, por tráfico e associação ao tráfico de drogas. Condenado, passou a cumprir pena no regime fechado, no CDP “ASP Valdecir Fabiano” de Riolândia, onde retomou os estudos.

Determinação

Enquanto recluso, ele afirma que não cogitou parar de estudar apesar da privação da liberdade, tanto pela rigorosidade do ensino federal, quanto pela cultura doméstica, já que sua família preza pela formação em nível superior.

Semanalmente, fazia empréstimo de um livro da biblioteca da unidade prisional, realizando a leitura do final da tarde até a hora de dormir, ou na sua folga, uma vez que trabalha no setor de cozinha da unidade, e também aos finais de semana, enquanto esperava a visita dos seus pais.

No CDP teve ainda a oportunidade de concluir o curso Empreendedorismo - Gestão Pessoal e Financeira, ministrado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Quando fui informado que poderia voltar a estudar, isso mudou completamente o sentido da minha vida”, enfatiza.

Procedimentos

Ao receber o pedido de continuidade dos estudos, já aprovado pela UFMS, a unidade não mediu esforços para proporcionar os recursos necessários para a conclusão do curso. As aulas eram ministradas semanalmente por videoconferência, bem como a orientação para o Trabalho de Conclusão de Curso.

Com a limitação física e intelectual da biblioteca da unidade, comparada à vastidão de possibilidades de pesquisa na internet, alguns materiais eram disponibilizados pelos professores e trazidos pelos pais de Emanuel e, após triagem pela unidade eram entregues ao mesmo, que elaborou o TCC de forma manuscrita.

Como tema, ele escolheu “Projeto de Vida.” Durante o desenvolvimento do trabalho, Emanuel promoveu encontros grupais com internos voluntários, tratando sobre a importância da educação, expondo que a sociedade valoriza a educação e as aptidões, e sem ela, quando egressos, se encontrarão mais vulneráveis, ao passo que só ela possibilita a concorrência em pé de igualdade com outros indivíduos fora do cárcere.

Incentivo da família

Os pais de Emanuel, que incentivaram o filho a dar continuidade aos estudos e intercederam junto à UFMS para que isso fosse possível, externaram a felicidade ao saber da sua aprovação.

“Mais uma vez obrigado e nós dividimos essa alegria e conquista com todos vocês. A colação de grau do Emanuel foi feita pela minha esposa por procuração, em 20 de março último. Hoje recebemos os documentos da faculdade que comprovam a conclusão do curso. Temos plena consciência que devemos isso ao bom senso, solidariedade e compromisso das pessoas dessa unidade com uma sociedade melhor”, comentou Wilson Andrade, pai do reeducando.

Para os demais presos, Emanuel cita Paulo Freire: “‘A educação é uma prática libertadora.’ No contexto prisão, é a única forma de liberdade, aprimoramento e crescimento pessoal. Liberdade é atuar na sua realidade material para transformá-la.”

Dever cumprido

O Diretor do CDP de Riolândia, Walmur Lopes Silva, expressa com alegria o fato. “Como agente de ressocialização, é gratificante poder contribuir para resultados como este. É ver o nosso árduo trabalho apresentar frutos que contribuirão para uma sociedade melhor.”

A Secretaria da Administração Penitenciária, em parceria com a Secretaria da Educação, promove o ensino regular em suas unidades, proporcionando à pessoa privada de liberdade a continuidade dos estudos. São oferecidos também, em parceria com outros órgãos públicos e instituições, cursos profissionalizantes que proporcionam oportunidades de trabalho interno ao preso, bem como permitem que esse seja qualificado para exercer atividades remuneradas como autônomo ou preencher vagas de emprego ao deixar a prisão.

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