Augusto Biason – Ecom/CRSC
A Polícia Penal do Estado de São Paulo participou, no último dia 23, do Sarau Literário “Ler Adianta” no SESC 24 de Maio. O evento reuniu pessoas egressas do sistema prisional, artistas e o público em geral em uma iniciativa voltada à reintegração social e à valorização da arte como meio de transformação. A ação foi organizada pelo Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Tribunal de Justiça de São Paulo (GMF/TJSP), em parceria com a Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania (CRSC).
A programação contou com a participação de importantes nomes da literatura e da música, como o poeta e escritor Sérgio Vaz, além de artistas que, assim como os demais egressos presentes, encontraram na arte um caminho para a reconstrução de suas trajetórias. Entre eles, a poeta e slammer Gih Trajano, a cantora e atriz sul-africana Nduduzo Siba, a multiartista Preta Ferreira e o rapper Sagat B. compartilharam suas histórias de superação e mostraram como a arte foi essencial na virada de vida após o período no sistema prisional. O evento teve a mediação da servidora do TJSP e especialista em Direitos Humanos Lári Germano.
Gih Trajano encontrou na poesia uma forma de se expressar e ressignificar sua história, tornando-se uma voz ativa no cenário dos slams de São Paulo. Nduduzo Siba relatou a dificuldade de estar privada de liberdade em um país onde não conhecia o idioma e como a música foi fundamental nesse processo. Através da arte, conseguiu aprender a língua, se conectar com outras pessoas e encontrar novas oportunidades, além de ajudar a manter-se conectada com sua identidade e cultura.
Para a multiartista e ativista Preta Ferreira, a arte ajudou a enfrentar os dias de cárcere e transformou sua experiência em inspiração para outras mulheres. “Desde que saí da prisão, comecei um projeto chamado Liberdades Pretas, em que passei a visitar os presídios de todo o Brasil com o meu livro [Minha Carne: Diário de uma Prisão] e um caderno em branco, para que as mulheres que lá estão possam escrever sua própria história e sua própria narrativa”, destacou.
Já Sagat B. fez do rap um meio de reflexão e mudança, procurando compartilhar experiências e incentivar outros egressos a buscarem novos caminhos.
Além das apresentações artísticas, o evento abriu espaço para o público ler trechos de textos produzidos por pessoas egressas durante uma oficina de escrita realizada no último mutirão de emprego da Central de Atenção ao Egresso e Familiares de São Paulo (CAEF-SP). As leituras foram um dos destaques da tarde, evidenciando talento e histórias de superação.
A Coordenadora de Reintegração Social e Cidadania, Carolina Passos Branquinho Maracajá, reforçou a relevância de iniciativas como essa no processo de ressocialização. “A arte tem um papel fundamental na reconstrução de trajetórias. O sarau foi um encontro de pessoas egressas que ocupam um lugar de fala por meio da arte. A arte talvez seja uma das formas mais eficazes de tocar o outro, pois sensibiliza, envolve e nos aproxima como sociedade”, afirmou. “Foi um evento de escuta sensível e surpreendente de histórias de superação, o que demonstra que a reintegração também é um momento de reconhecimento de que histórias são únicas e cada uma importa. E reafirmou que a leitura, a educação e a arte transformam vidas”, finalizou a Coordenadora.
O desembargador Gilberto Leme Marcos Garcia destacou a importância da iniciativa e a relevância da arte na transformação social. “Este é o primeiro sarau literário que realizamos e estou muito ansioso. A arte é o mais importante instrumento de transformação social”, afirmou. O magistrado ressaltou ainda como a literatura tem o poder de impactar vidas e despertar novas perspectivas, mencionando que muitas pessoas privadas de liberdade têm se encantado com a leitura.
A ação é um desdobramento da 4ª edição do projeto “Ler Adianta”, realizado anualmente no mês de outubro em celebração ao Dia Nacional da Leitura (12/10). A iniciativa promove a arrecadação de livros para distribuição em Unidades Prisionais do estado. Além de contribuir para a formação cultural, pessoal e profissional das pessoas privadas de liberdade, a leitura desempenha um papel essencial na ressocialização, permitindo também a remição de pena, conforme previsto na Resolução nº 391 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O evento foi viabilizado pelo Departamento de Relações Institucionais e Projetos (DRIP) da CRSC, responsável por articular parcerias e iniciativas voltadas à reintegração social. A ação reforça o compromisso da Coordenadoria em promover atividades que incentivem a inclusão e o desenvolvimento de pessoas egressas por meio da arte e da cultura.