JC Bigaran – CRN
No dia 23 de outubro, o Hospital do Amor de Barretos realizou uma ação de rastreamento de câncer de boca – ou câncer da cavidade oral, na Penitenciária de Taiúva. Este tipo de câncer diz respeito aos tumores que afetam lábios, gengivas, bochechas (interior), céu da boca e língua; além de amígdalas, palato mole e paredes da garganta.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prevenção passa por hábitos de vida saudáveis, ampliação do acesso aos serviços de saúde e diagnóstico precoce, visto que os principais fatores de risco são o tabagismo, consumo excessivo de bebida alcoólica, má higiene bucal, exposição à radiação solar (para casos de câncer nos lábios) e prática de sexo oral sem preservativo.
Dois dentistas especialistas nesse tipo de câncer, juntamente a gerente responsável pelo setor de câncer bucal do hospital, realizaram exames em 152 reeducandos, com o apoio da equipe de saúde da Unidade Prisional, que conta com um médico, um dentista, uma enfermeira padrão, dois técnicos de enfermagem e as diretoras do Núcleo de Saúde e do Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde. Também auxiliaram uma enfermeira e uma técnica de enfermagem da Prefeitura Municipal de Taiúva.
O exame bucal é simples e realizado de maneira visual, com auxílio de lanterna e espátula. Caso algum atendido apresente indícios da doença, é feito encaminhamento para exames mais específicos como biópsia por exemplo e, confirmando o diagnóstico inicia o tratamento.
Sinais e sintomas
São sintomas da doença: feridas locais que não cicatrizam em 15 dias, mesmo que não apresentem dor; Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou escuras; Caroços no pescoço; Dor de ouvido; Dificuldade de falar e/ou engolir; Dores na boca e/ou pescoço.
Quem deve realizar o rastreamento?
Homens e mulheres a partir de 35 anos, que fumam e/ou bebem bebidas alcoólicas com frequência, ou que tenham deixado de fumar em até 20 anos.
O programa de rastreamento do Hospital do Amor
Desde 2014, o Hospital de Amor conta com um programa ativo de rastreamento de câncer de boca, com foco na população de alto risco. Foi implantado incialmente em toda DRS-V, regional que compreende 18 municípios, incluindo Barretos (SP), cidade que abriga a sede da instituição.
Atualmente, o programa conta com visitas anuais regulares em todos os municípios da DRS-V, além de ações pontuais que visam a ampliação da cobertura e efetividade. A instituição também já deu início à uma expansão do projeto para outras localidades, como as cidades de Rio Branco (AC) e Ji-Paraná (RO). A ampliação prevê, ainda, atividades conjuntas com o programa de rastreamento de câncer de pulmão da entidade, já que o público-alvo é semelhante.
Estatísticas
O câncer de boca, apesar de altamente prevenível, ainda é um dos 10 mais incidentes no Brasil, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023-2025, com 15,1 mil novos casos/ano, dos quais 72% em homens. Apesar de ter ido de 5º para 8º lugar, quando comparado a estimativa anterior, a doença preocupa pela alta taxa de diagnóstico tardio, que reduz consideravelmente as chances de cura, além de tornar necessária a intervenção com tratamentos mais complexos e de alto custo.
Só em 2023, foram 21.349 exames bucais realizados, onde 806 biópsias foram necessárias, resultando em 223 diagnósticos. De acordo com o Coordenador do Departamento de Odontologia, Dr. Fábio Luiz Coracin, o sucesso desse modelo é composto por diversos fatores, entre eles a parceria e integração sólida entre as atenções primárias, secundárias e terciárias de saúde; e a busca ativa voltada para população de alto risco, que possui resistência ao rastreamento espontâneo. Além disso, outro ponto de destaque, é o baixo custo, que fica em torno de R$ 10 por paciente, considerando a estimativa de hora trabalhada de dois profissionais e material de consumo.
O programa possui uma taxa 56,3% de estadiamento do câncer (avaliação de seu grau de disseminação), taxa que é de apenas 26,9% no âmbito nacional de acordo com o INCA.